quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SEGUNDA CARTA AO BISPO




SEGUNDA CARTA AO BISPO.

Senhor Bispo,

Volto a escrever-lhe e logo revelo: é uma carta de indignação.
Sim, Reverendíssimo, indignação pelo que assistimos durante alguns meses no Poder Legislativo, especificamente no Senado Federal, onde se viu de tudo.
De "coronel de merda" a "cangaceiro de terceira classe" vimos senadores da República digladiando-se, como raramente se vê na mais atrasada câmara de vereadores deste país.
E o que é mais grave: tomam em vão o nome de Rui Barbosa que, a essa altura, contorce-se no túmulo pela vergonha de "presenciar", pelo busto ali afixado, tantas e reiteradas obscenidades políticas e morais.
O Senado deve ser uma casa de ponderação, ao menos essa é a sua concepção histórica, como moderador das decisões. Uma casa em que a representação federativa serve ao pacto formal do Estado de modo a evitar que as peculiaridades naturais e sociais se transformem em desigualdades. Isto é o papel de um senado que observa suas atribuições.
Hoje o senado do Brasil perdeu em muito sua identidade. Da fraude de um painel (cuja essência é a fraude da vontade constituinte), passando pelo envolvimento sexual de um senador com uma jornalista, transitando por renúncias, até desembocar em atos adminsitrativos secretos e desvios familiares, tudo é um ingrediente que estimula o discurso sobre a utilidade dessa casa legislativa.
Afinal, o senado é essencial para a República? Não seria melhor extingui-lo?

Esta indagação será respondida ao longo do tempo, pois necessita de uma reflexão.
Nesta oportunidade, Reverendíssimo, INDIGNAÇÃO, é o único sentimento que consigo externar com os acontecimentos do senado, de joelhos em frente ao Palácio do Planalto.
Houve um tempo neste país em que existia a vergonha na mentira imposta pelo rubor dos homens que se importavam, realmente, com a base eleitoral. Parece que isso desapareceu, embora a mentira persista, hoje, contudo, com a palidez de quem nada sente. Mentem esses homens com naturalidade, fazendo com que o povo tenha a sensação de que entre eles e Beira-Mar haja diferença apenas do juízo de condenação. Mas o delinquente formalmente condenado parece um anjo diante de tanta vergonha imposta ao povo brasileiro.
Resta-me, Reverendíssimo, implorar sua intervenção, em orações junto ao Criador, para que escolha, ao invés de monstros, em nome da democracia
Sua bênção.