domingo, 26 de setembro de 2010

A OMISSÃO DOS BONS


Artigo publicado no Jornal Pequeno, edição do dia 26 de setembro de 2010, p. 8








A OMISSÃO DOS BONS

José Cláudio Pavão Santana

Doutor em Direito do Estado - PUC-SP. Mestre em Direito pela FDR-UFPE. Professor Adjunto do DEDIR-UFMA. Membro do IBEC. Membro do IMADE. Subprocurador Geral do Estado.

Esta semana completei 34 anos de serviço (entre administrativo e professor) junto à Universidade Federal do Maranhão. A UFMA, como chamamos com carinho, com revolta, mas nunca com descaso.

A data trouxe-me à lembrança o dia da aposentadoria de meu pai na Caixa Econômica, onde trabalhou por longos anos. Fez-me compreender, finalmente, o que ele dizia: “A Caixa me deu tudo”, numa reveladora paixão, finalmente transbordada em presença dos colegas de serviço.

Esta lembrança, o tempo que por mim passou, a função de professor fizeram-me construir uma percepção de universidade diferida da que, infelizmente, muitas pessoas possuem. Vejo, por exemplo, um estranho sentimento aqui no Maranhão de que universidade é um órgão estranho ao meio. Vejo nela, em alguns setores, o infundado distanciamento da sociedade, como se não houvesse (na universidade e na sociedade) um elo indissociável. Quem hoje se senta nos bancos amanhã estará diante de outros tantos transmitindo seus conhecimentos, aperfeiçoados pelo tempo, pelas inovações teóricas e tecnológicas que surgem. E a vida continua.

Defendo, há muito, que a universidade é um cenário propulsor de conhecimento. Não lhe é permitido repetir, simplesmente. É preciso criticar, produzir, formular, construir. Infelizmente muitas vezes o criticar substitui tudo isto, e o que é pior, ganhando a única dimensão talvez visível. Edifica-se um discurso generalista e ideológico, como se um apanhado de vocábulos postos em (des) ordem, transmitissem algo além de chavões demodês, muitas vezes.

Coincidência, ou não a esta data, que me é particularmente significativa, vi por um dos canais de televisão a denúncia de um candidato acerca do uso das instalações do Campus Universitário da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, por candidatos ao governo e ao Senado da República. Tudo filmado, documentado e com repercussão, ao que pude constatar, pois logo procuraram dar uma versão ao fato, pretendendo dizer (e o que é pior) que não tinha havido o que houve e que eu não tinha visto o que vi.

Muitos são os aspectos que possibilitariam uma abordagem aqui, mas o espaço impõe-me falar apenas sobre poucos, infelizmente.

Triste do fato é que as autoridades envolvidas não conseguem dar exemplos, portanto, já não podem dar conselhos ao povo, esquecendo-se que a política possui uma função pedagógica sobretudo. Vivemos numa República, portanto, não se pode continuar com o sentimento monarquista.

Mas triste, também, no episódio, foi ver o silêncio sepulcral do corpo da UEMA. Não tive notícia de um protesto pelo corpo docente, pelo corpo administrativo, talvez pelos estudantes...? Não tive notícia! Nenhuma nota. Nada!

Tempos atrás, quando havia diálogo aberto e direto com o governo, testemunhei discursos inflamados sobre a autonomia universitária. Testemunhei insultos até sobre medidas cujo conteúdo foi demonizado. Hoje, ao ver a omissão desses líderes, volto os meus olhos ao passado e lembro de líderes que discursavam sobre o que queríamos dizer, mas éramos impedidos. Esses mesmos líderes hoje carregam consigo os ícones mais atrasados, com seus valores retrógrados e ultrapassados, os mesmos que outrora combatera.

Paro, penso nos meus 34 anos de universidade. Sinto-me feliz com o tempo. Trago à lembrança colegas de serviço, bate-papos incontáveis, aprendizados memoráveis. Só não trago na lembrança a omissão. Porque defendo a universidade comprometida com a sociedade, sem dar as costas ao seu principal cliente: o povo brasileiro.

No Maranhão assisto com pesar a falta de envolvimento do governo com a universidade, pois raras (para não dizer inexistentes) são as vezes em que vi, de forma tão direta, o envolvimento de autoridades com a UEMA. Infelizmente foi preciso um programa político para que eu assistisse esse envolvimento. E, cá pra nós, não foi da forma mais adequada. O que me dói é a omissão dos bons (como diria King) porque dos maus, bom, essa é visível, ela só não existe no palanque.