segunda-feira, 27 de abril de 2009

VOSSA EXCELÊNCIA E A INDECÊNCIA

Vossa Excelência e a indecência.

O cenário é suntuoso. A indumentária das mais tradicionais. O vocabulário obedece à tradição. A linguagem escorreita. Ainda quando se trate de lançar acusações os pronomes de tratamento se anunciam como se, a obediência à formalidade, à solenidade próprias, credenciasse o diálogo.
Tive a sensação de que presenciava uma “rinha de galos provincianos”, para usar uma expressão recente empregada no TSE. Talvez a figura de um “perú bêbado” melhor retratasse minha incredulidade, conquanto eu seja um Pavão!
Não, não falo de nenhum acontecimento surrealista, daquele simbolziados pela deformidade de imagens, como um relógio derretido pelo gênio Dali. Falo (é verdade) do STF, o Supremo Tribunal Federal, a Excelsa Corte, para valer-me de um chavão forense que o “juridicês” consegue, com “destartes”, “inobstantes”, “data venias” e outras pérolas, produzir com freqüência, passando a sensação (alguns pensam, pelo menos) de que quanto mais hermética a linguagem, maior o conhecimento. Triste engano!
Confesso que, como professor, advogado e cidadão, senti-me ultrajado. Como pode o guardião da Constituição, aquele órgão de cuida da “lei das leis”, produzir um episódio que, se não é surreal beira o patético. Triste, para não usar outro substantivo.
Ponho-me a imaginar que a salutar publicidade das sessões, que transpõem os limites do território nacional, possam ter sido vistas (e ontem seguramente foi) pelo mundo globalizado, como exemplo do que não deve ser seguido em nome do exercício do poder judicante.
Longe, “seu Lula” de representar exercício democrático, isto revela um quadro triste do Brasil: passagens aéreas para amigos e parentes, como se o “Congressotur” fosse “the mommy’s Johann house”.
Houve um tempo, neste país, em que um senador da república foi cassado, porque fotografado de cuecas. Viveremos um outro em que um simples pronome de tratamento é usado, como se fosse capaz de amenizar um quadro dessa ordem? Patético o que vimos, lamentável o acontecimento. Ou se tem a consciência de que cada um agente republicano é apenas um “servidor público” ou, logo em breve, conviveremos com a possibilidade de assistirmos um diálogo mais ou menos assim:
- V. Exa. é um grande f.d.p. porque não trouxe aos autos a merda daquele fato. Ao que sera resppondido:
- F.d.p. é V. Exa., que não conheceu sua mãe!
- (Me) respeite! Eu conheci minha mãe, assim como muitos conheceram a sua!
E aí intervirão alguns colegas dizendo:
- Chamo a atenção dos colegas f.d.p. que essa discussão de bosta está sendo transmitida para todo o país, enquanto um monte de abestados, que pagam a conta dessa trasmissão, sorriem como hienas, sem saber por quê.
Tomara, excelências, que essas excrecências, indecências, maledicênsias não se tornem indiferenças. Tomara!

Nenhum comentário: